Estreou nos cinemas portugueses no dia 9, passada quinta-feira, o filme independente Autópsia de Jane Doe. O filme não é deste ano, 2017, mas do ano passado porém, como é costume acontecer com filmes Indie de sucesso, o mesmo estreia primeiramente num festival (de cinema) onde depois poderá atrair o interesse de grandes distribuidoras que, por sua vez fazem um contrato para levar o filme às salas de cinema - primeiro do próprio país e depois, caso o sucesso justifique, para outros cinemas, pelo mundo fora.
Um bom exemplo disso será o primeiro filme do franchise Paranormal Activity que se estreou no Screamfest Film Festival em Outubro de 2007, onde despertou o interesse da Paramount. Em Outubro de 2009 estreou nos cinemas americanos e, dois meses depois, nos cinemas do resto do mundo. São poucos os filmes indie que chegam ao cinema porque a maior parte passa por um ou dois festivais e só depois são vendidos pelo próprio estúdio em dvd, blu-ray ou mesmo em formato digital. Também existem aqueles que, apesar de despertar o interesse das grandes distribuidoras, vão parar às lojas em formato dvd e blu-ray sem passar pelo cinema.
A Autópsia de Jane Doe estreou no festival Toronto International Film Festival (TIFF), no dia 9 de Setembro de 2016 e só depois foi lançado nos cinemas americanos, no dia 21 de Dezembro pela IFC Midnight, estando agora a ser distribuído pelo resto do mundo, pela Lionsgate.
Numa pequena cidade no Estado de Virgínia, EUA, o filme começa com a polícia a investigar uma casa onde um crime teria ocorrido e, onde estariam vários cadáveres, brutalmente assassinados. A polícia conclui então que não havia nenhum sinal de arrombamento mas, pelo contrário, as vítimas estariam a tentar fugir da casa, porém sem sucesso. E, como se o enigma não fosse já grande o suficiente, a polícia encontra um cadáver de uma mulher (Olwen Catherine Kelly) meio enterrado que não se encaixava no meio da cena do crime esboçado e, que por sua vez, não havia sinal qualquer que permitisse identificar quem o mesmo seria.
O Sheriff Sheldon (Michael McElhatton) decide então levar o corpo para uma autópsia urgente com o objectivo de "entender" o cadáver, até ao final da noite para que também ele possuísse uma explicação na manhã seguinte ao ser interrogado pelos mídia locais. O mesmo cadáver, referido como "Jane Doe" (que será um nome provisório, dado a corpos não identificados nos relatórios da policia americana), é levado para a casa da família Tilden, cuja cave funciona como um crematório e morgue, onde Tommy e Austin, pai e filho respetivamente, trabalham como médicos legistas. O Sheriff Sheldon chega à cave dos Tilden no preciso momento em que Austin e a sua namorada Emma (Ophelia Lovibond) estavam de saída para ir ao cinema. Austin fica intrigado com a urgência do Sheriff para que a realização da autópsia de Jane Doe, decidindo assim ficar com o pai de modo a realizarem ambos a autópsia. A partir daí acontece a autópsia do cadáver onde fenómenos estranhos acontecem e será por aí que progride o filme, portanto no more spoilers!
Quanto a uma análise mais crítica do filme, o primeiro ponto a comentar será o trailer: o mesmo chama a atenção do público e, não comete o pecado que muitos filmes de terror Indie cometem na execução dos trailers, e estou a referir-me a não mais nem menos que à exposição quase total da história. Ultimamente e, como nota de curiosidade, tenho visto bastantes trailers de filmes Indie que contam a história basicamente toda, com exceção do derradeiro final.
Neste caso acontece o suposto, o trailer apenas mostra o essencial da trama inicial do filme sem denunciar o que irá acontecer durante o resto do tempo de filme.
A primeira parte do filme parece ser um filme de suspense onde há aquela sensação de mistério, onde eles irão procurar resolver algo mas, será também nessa altura que começam a existir alguns sinais mesmo que ainda não sejam nada de terror, ou prometedores de uma cena de tensão ou jumpscares. A cena inicial apresenta-se então como sendo apenas a investigação do cadáver. A mesma vai progredindo para o terror à medida que vão descobrindo mais pormenores sobre o cadáver e, mais fenómenos que podem ser-se vistos no trailer, vão acontecendo, até chegar à cena final onde a ação se desenrola sem o espetador ter a mínima ideia do que irá acontecer o que, por sua vez será bom pelo fator de imprevisibilidade que apresenta.
Não é um filme "forte", não é aquele que te irá fazer sentir muito medo, ou até saltar da cadeira pois tem poucos jumpscares. O mesmo opta por uma vertente mais psicológica e usa-a muito bem para criar um clima de tensão, de terror, o que fez com que até o meu amigo virasse a cara ao grande ecrã durante metade do filme. Quanto ao gore... não é aquele gore asqueroso que te vai fazer vomitar, mas é um gore bonito, realista, sem muito sangue e a medida exata para uma autópsia.
A fotografia geral do filme inteiro é bastante agradável, contando com a presença de cenários bem decorados e, nomeadamente do tal cadáver de uma mulher jovem, pálido e bonito, na medida em que se o poderia equiparar a uma boneca de porcelana que, apesar de se apresentar nu, não se trata de uma nudez "sexualisada". A progressão da história e o desenrolar do mistério é bem escrito e inteligente, onde tudo faz sentido e as pistas para a resolução do mistério são dadas de forma a que na nossa própria cabeça criemos as nossas teorias, juntamente com os médicos legistas, o que depois com a descoberta de outra pista fará necessariamente com que se repense, aspeto que se repete até ao final do filme.
Pela sua história surpreendente, imprevisível, bem escrita e original, porque nunca vi um filme sobre uma autópsia; pela sua estética agradável, a Autópsia de Jane Doe é um dos melhores filmes Indies de terror da década e é uma boa surpresa que nos fará mudar de ideias quanto ao que pensávamos de 2016 ser um ano fraco para o terror. Por isso não percas este filme que já se encontra nos cinemas!
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